terça-feira, 12 de outubro de 2010

EU E OS AROMAS

Rosas e outras flores

DESDE pequena que os aromas mexem comigo. O cheiro a mar, o cheiro de terra molhada, após uma boa chuvada, o cheiro de flores e principalmente das rosas, de frutas, o cheiro do café, das vindimas, da fermentação das uvas, (sempre que me escapava à autoridade paterna e ia pisar uvas para o lagar...).
E se há coisa que, ainda hoje me agrada é cheirar um vinho com um bouquet rico e tentar advinhar algumas das suas notas dominantes. Isto de vinhos e perfumes têm imensas semelhanças.
Lembro-me de sentir, ainda pequenita, quando a minha Mãe estava a chegar ou tinha saído de casa, pelo cheiro do seu perfume, como me lembro com saudade, de dizer. «Isto cheira a Mãe!». Era tão reconfortante! Os meus filhos disseram o mesmo e, embora cada um já na sua casa, ainda o dizem quando chegam à casa materna. Os meus netos irão, certamente, sentir e dizer o mesmo e quem sabe se uma delas não poderá enveredar pelo mundo mágico dos aromas?
Lembro-me, já adolescente do meu irmão gostar de me oferecer um perfume no meu aniversário. Na época a escolha era limitada mas há dois inesquecíveis a Eau de Lanvin e o Vent Vert de Balmain. Estas memórias, obviamente olfactivas são, sobretudo, sentimentais mas são-me, ainda hoje, muito presentes.
Depois quando entrei, profissionalmente, no mundo da Moda e da Beleza, não me têm faltado oportunidades para experimentar e sentir mil e um aromas...
A estória que passo a contar tem a ver exactamente com isso e com o lançamento do 1º perfume português «Ana Salazar», cujo "nez" foi o famoso Alberto Morillas, que trabalha para a não menos famosa Firmenich.
Como estava, em Paris a fazer, para o Expresso, a cobertura da semana de Moda, decidi que iria entrevistar Morillas, no seu laboratório. Aí, veria, ao vivo, e perceberia alguns dos bastidores e dos meandros até se chegar ao perfume. Escreveria uma matéria para a Revista do jornal que funcionaria como uma "avant-première" do lançamento do perfume em Portugal. Absolutamente imperdível!

Isto aconteceu em 1989 e foi um encontro memorável.
Dia e hora combinadas, lá vou, de metro, em direcção à "La Défense". Facilmente dei com a Firmenich onde Albert Morillas me esperava. Muito simpaticamente pôs-me, de imediato, à vontade e depois de uns minutos de conversa foi mostrar-me exactamente a parte laboratorial e alguns dos bastidores que eu tinha curiosiade em conhecer. Voltamos ao gabinete, fez-me cheirar várias "paillettes" com aromas semelhantes mas nuns havia predominância de notas que não havia noutros, e assim por diante, perguntando-me o que achava, até chegarmos à chave do que seria, mais coisa, menos coisa, o Ana Salazar, que foi um perfume fantástico, digamos em abono da verdade. Lá pelas 13h convidou-me para almoçarmos numa brasserie ali perto e pelo caminho, pergunta-me à queima-roupa:
- «Que perfume está a usar»? Por fracções de segundo fiquei perplexa porque na altura era uma fã incondicional de Enrico Coveri (um perfume que o próprio Morillhas tinha feito para este costureiro italiano, infelizmente já falecido). Eu adorava aquela fragrância porque ia bem com a minha pele e com a minha personalidade. Lembro-me de entrar no Expresso (então na Duque de Palmela) e toda a gente saber que tinha acabado de entrar por causa do rasto. O perfume era óptimo, agarrava bem à pele, porque tinha óptimos óleos essencias e fixantes e eu não percebia como é que ele não o reconhecera, de imediato.

ENRICO COVERI (o frasco original da Eau de Toilette era exactamente este, mas na cartonagem parece-me ler Deodorant Parfumé. Estou restringida a uma imagem da net)
Timidamente respondi: -«Mas é um perfume seu», esperando que ele lá chegasse. Ao ver a sua atrapalhação confessei-lhe qual era e, num misto de contentamento e de espanto respondeu: - «Mais c'est magnifique! comme il a changé bien sur votre peau»!... Almoçamos e conversamos sobre tudo. Fiquei a saber que era um "connaisseur" e coleccionador de antiguidades - um dos seus hobbies. Era um homem viajado e, embora novo, já tinha, dentro de si, muito mundo
Regressamos ao laboratório para acabar a entrevista mas, entretanto, chamou uma das suas colaboradoras, deu-lhe um papelinho para a mão e continuamos. Quase no final
chega a senhora com um frasco de laboratório, tampa azul escura, que lhe entrega. Ele cheira e diz-me: «Aqui tem, em Eau de Parfum, numa formulação concentrada de Enrico Coveri, mas este só para si»!
Fiquei extasiada. Era realmente mais concentrado e, ainda hoje, guardo o frasco com um bocadinho do perfume. É uma das minhas relíquias perfumísticas porque a Eau de Toilette foi descontinuada e já não existe no mercado, para grande pena minha.
Viemo-nos a encontrar mais duas ou três vezes, no estrangeiro, em lançamentos de perfumes com a sua assinatura - encontros esses que se tornam sempre momentos muito simpáticose descontraídos.

Tenho perfumes que adoro e já não sou fiel a um só perfume. Uso vários, principalmente, conforme o humor, se está calor ou frio, se é dia ou noite, se há uma festa ou um encontro informal. Mas nunca saio à rua sem umas gotas de uma das minhas Eaux de Toilette. Não é uma questão de pura "coquetterie".
Lembro que isto acontece, porque sendo um dos membros de júri do «Prémio Máxima Beleza e Perfumes», vou recebendo as várias novidades que depois em Janeiro irão a votação.
Mas não vou confessar-vos de quais mais gosto porque ficavam a saber tanto como eu.
Podemos utilizar mil chavões em redor dos perfumes e todos eles são acertivos: são obras de arte e são-no: tanto algumas essências, como alguns frascos; são arrebatadores, são poções mágicas capazes de pôr em alerta todos os sentidos, são hinos ao amor, à paixão, à sensualidade, são tributos de feminilidade e (quando perfume de homem) de masculinidade, são excêntricos, impertinentes, mas também graciosos e podem ser florais, frutados, amadeirados, orientais - mas isto já tem a ver com a descrição das pirâmides olfactivas de cada um (ou os tais bouquets que utilizamos na apreciação dos vinhos).

212 VIP de CAROLINA HERRERA




Sendo assim vou dar-vos conhecimento, sucinto, até porque o texto já vai longo de algumas boas fragrâncias que surgiram, no mercado desde Setembro, e que constituem novidades. Outras virão no texto seguinte. Começo, obviamente, devido a esta narrativa pela Eau de Parfum 212 VIP de Alberto Morillas, mas a ordenação é aleatória, já que são todas fantásticas!
212VIP de Carolina Herrera é uma Eau de Parfum que tem tudo a ver com Nova Iorque, com o seu ritmo, que combina festa com sedução e uma determinada elite, tal como consta do inscrito na cartonagem: 212 VIP Are You On The List? NYC .
É um perfume que evoca o "non stop" de Nova Iorque mas onde não faltam a elegância, o estilo e a atitude. Tem uma combinação de notas, que à partida, poderiam ser contraditórias mas conseguem um todo diferente e harmonioso. Com maracujá e rum, como notas de cabeça, tem um coração de almíscar e gardénia e um fundo em que predomina a baunilha, uma nota sempre sedutora e a sensual fava tonka.
PVPR: Eaux de Parfum 80ml: €86,05; 50ml:€65,40 e 30ml:€44,30

Nina L'Elixir de NINA RICCI


Cá está um exemplo de uma maçã artística, recriada no frasco mítico dos anos 50, criação de Marc Lalique e Robert Ricci, que contém um Elixir que recria a estória do Jardim do Paraíso, num tributo à feminilidade, num aroma oriental com uma base quente de âmbar, madeira de cedro e musk, assinado por Olivier Cresp. A maçã vermelha é um dos símbolos desta fragrância cujas notas de coração se misturam com notas agradáveis de jasmim e framboesas mas cuja saída é fesca e citilante, graças às notas de limão da Calábria e da lima.
Esta poção de amor é para mulheres seguras do seu charme e que com ele se divertem.
PVPR: Eaux de Parfum 80ml:€80,79; 50ml:€66,76 e 30ml:€44,89

IDYLLE de GUERLAIN


IDYLLE, um elixir cuja sedução está nas rosas, fundamentalmente, na da Bulgária e na presença forte de uma rosa antiga com acentos frutados e um aroma poderoso. Esta é a rosa de Plessis Robinson, criada por Jean-Paul Guerlain. Mas o perfumista e sucessor de Jean-Paul Guerlain, Thierry Wasser, não só encontrou em Guerlain um pai espiritual, admirando não só a riqueza das suas criações como o romantismo das mesmas: o excesso do jasmim e do sândalo, que perturba os sentidos como por exemplo, em Samsara, resolvendo dar continuidade a este gosto por uma certa exuberância de notas olfactivas,como também pela continuidade da beleza e elegância dos frascos. IDYLLE é um bouquet composto de rosas da Bulgária mas também de outras flores cuja ressonância olfactiva é mais suave. E é neste equílibrio de notas especiadas e meladas, com notas doces e apimentadas e no conhecimento de uma gramática olfactiva em que se está sempre a experimentar uma mistura inusitada que se encontra o acorde perfeito que resulta na magia da fragrância.
PVPR: IDYL EDP Vapo 35ml: €62,20; 50ml:€84,30 e 100ml: €122,20

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